A Arte de Contar Estórias em Fotografia

Cuidado leitor, tenho escrito muitas vezes, que Contar Estórias é um dos factores mais importantes na Fotografia. Uma imagem sem uma história é apenas uma imagem superficial. Sem uma história, a fotografia não tem profundidade.

Certo, há fotografias que são bonitas de se ver. O nascer do sol sobre o oceano pode ser caloroso e olhar bem para a parede. Mas será que eles falam com você? Eles contam uma história que não seja de beleza?

É claro que são imagens bonitas sem dúvida, mas para mim todas são uma espécie de bolha. Eu nem consegui distinguir a maioria delas. Elas não ficam comigo e eu não seria capaz de me lembrar delas ou voltar, apenas para encontrar outro detalhe.

Fotografia documental, por outro lado, é muito mais do que aquilo que você vê na fotografia. A fotografia é apenas o catalisador para desencadear uma reacção em cadeia que lhe permite criar uma história na sua mente.

Essas histórias são o que as torna memoráveis e icónicas.

As histórias impactantes e emocionais de pessoas, famílias e sociedades continuarão a ser interessantes para as gerações futuras.

Criar Histórias

Um filme tem em média 24 fotogramas por segundo. Com um tempo de duração de cerca de 90 minutos, isso significa que o diretor 129.600 quadros para contar suas histórias.

129.600 quadros para criar uma história do começo ao fim. Desde apresentar os personagens até enfrentar um desafio e finalmente resolver o problema.

Quanto tempo você precisaria para fotografar 129.600 Fotografias de Rua? Um mês, um ano ou uma década?

Um filme tem o luxo de ter muito espaço para transmitir uma tragédia ou fazer rir o público. Contar histórias na fotografia só tem espaço para um quadro.

Num único quadro, o fotógrafo tem de criar a mesma tensão, que Hollywood tem 129.600 tentativas e oportunidades. Acho que você já pode perceber o quão difícil pode ser contar histórias em fotografia.

Como um meio estático, a fotografia é congelada em um momento. Você não sabe o que aconteceu antes ou depois. Isto deixa espaço para o próprio espectador inventar uma história.

Um diretor de cinema conta uma história em 90 minutos.

O fotógrafo mostra um quadro e quer amarrar o espectador. Ele não conta a história. Ele cria espaço suficiente e inspiração para o próprio espectador se envolver.

Obviamente, há muitas diferenças em relação aos meios que têm muito mais tempo para evoluir sua história.

Contar uma história em fotografia deve começar com um personagem ou detalhe interessante que prenda instantaneamente a atenção do espectador. Então o foco deve levar a um “giro” que cria tensão terminando com um grande final.

Na realidade, uma fotografia é muito mais abstrata que uma simples história linear que está presente numa imagem. Muita coisa acontece em nossas mentes e as mentes dos espectadores são diferentes.

Por isso nem todos os espectadores vêem a mesma história ou qualquer outra. Dependendo das experiências passadas, memórias e personalidade a história varia.

O ditado comum de que uma fotografia diz mais sobre o fotógrafo do que os seus sujeitos podem ser verdadeiros. Referindo-se à história que uma fotografia conta, eu iria mais longe e diria que a história conta mais sobre o espectador do que o fotógrafo.

O Início

Onde começa uma história numa fotografia?

Em filmes ou livros, é muito claro que a história começa a partir da página/minuto 1 com a introdução. Conhecemos os personagens e o espectador/leitor é conduzido através da história.

Uma fotografia não tem uma ordem tão clara. Tudo o que vemos é um plano bidimensional onde tudo parece igualmente importante e não tem início e fim claros.

Fotografias que não têm uma composição clara parecem ser caóticas e difíceis de seguir.

Embora as fotografias não tenham uma linha temporal, a composição deve suportar uma direcção que pareça razoável para o espectador.

Um equívoco comum que observo para os Fotógrafos de Rua que recentemente começaram a explorar este género é que eles tentam empacotar tudo numa só imagem. Eles sentem a pressão de incluir cada detalhe ou ponto interessante em um quadro porque, caso contrário, pode ser muito chato. Isto leva a imagens que não têm uma caligrafia clara e são apenas confusas.

Contar histórias em Fotografia deve vir com um detalhe que se destaque de tudo o resto. Ajudando o espectador a entender onde uma possível história poderia começar.

Gesturas

Existem alguns detalhes que são frequentemente falados em Street Photography e como devemos estar na busca por eles. A razão pela qual fotografias com tais detalhes são mais interessantes é que elas contam mais facilmente uma história.

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São universalmente entendidas e é fácil de se inventar uma história interessante para o espectador.

Gesturas são um desses detalhes que muitas vezes funcionam bem na Street Photography.

Como uma forma de interação humana, eles naturalmente contam uma história e muitas vezes mostram emoções muito diretamente.

Como visto nesta foto por Nancy Borrowick de sua série “The Family Imprint”, os gestos entram com mais mão quando há pessoas interagindo diretamente.

Mostrar um retrato de uma única pessoa normalmente não transmite uma história tão forte. Mesmo quando se tem personagens fortes na frente da lente, torna-se muito difícil mostrar uma história completa.

Na Fotografia de Rua, procurar pessoas que já comunicam e mostram algum tipo de ação torna muito mais fácil encontrar uma história na imagem. Em outras palavras, a história já está naturalmente lá, como um Fotógrafo você não precisa fazer muito mais do que capturá-la.

Uma única pessoa

Quando apenas com uma única pessoa, precisa haver algum contexto que ajude a formar uma história.

Por exemplo na foto acima, a pessoa trabalha muito bem nesta noite e na foto em flash. De onde ele veio, qual é o seu trabalho? Ele quase parece ser o padrinho do Ku’Damm de Berlim e as luzes atrás dele suportam tal história.

Usualmente, quando fotografo pessoas solteiras é pela estética ou atmosfera, raramente pela história.

Contos Abertos

Fotografias podem mostrar a história completa ou deixar algumas dicas para o espectador interpretar.

A distinção está em histórias “abertas” ou “fechadas”.

Contos abertos não retratam a história inteira.

Comencionei antes que a composição tem um grande impacto na história. Os triângulos são frequentemente usados para criar arcos interessantes de histórias. A chave nas histórias abertas é, por exemplo, que apenas duas das pedras angulares da história são visíveis enquanto a terceira é deixada de fora.

Isso deixa espaço para interpretação para o espectador contar a história da maneira que ele prefere.

As histórias abertas são mais envolventes para o espectador, pois lhes dão a oportunidade de ter uma influência mais direta. Em troca, eles também são mais exigentes.

Em troca, eles também são mais exigentes.

Muitas vezes, quando não há a história diretamente visível, leva algum tempo para o espectador chegar a uma interpretação da imagem ele mesmo. Dependendo da imaginação e da inspiração, nem todos terão “acesso” à imagem. Alguns vão observar a foto com pontos de interrogação, enquanto outros realmente se envolvem e são capazes de chegar a uma grande interpretação.

Assim, a crítica pode ser muito misturada e polarizadora. Uma metade apreciará seus esforços e “entenderá” suas dicas e direções nas quais você está liderando, enquanto outros podem estar confusos e não são capazes de criar uma história.

O feedback negativo ou crítica severa, neste caso, não deve deixá-lo inseguro. Se você se sente positivo em relação à sua própria imagem, esta deve ser a sua principal preocupação.

A imagem acima é um pequeno exemplo de uma história “aberta”. Nós só vemos a mulher com um olhar muito feroz mas não temos informações do que ela está testemunhando.

Closed Stories

Pelo contrário, há histórias que são muito óbvias e são contadas principalmente pelo fotógrafo, respectivamente os sujeitos.

Todos os detalhes relevantes que são importantes são visíveis na foto, o que deve facilitar ao espectador seguir o enredo.

Neste caso, a configuração é bastante clara. Mesmo sem qualquer outra informação de fundo, é uma situação muito festiva. Com as luzes na parte de trás, há fortes dicas no New-Years Eve, o que está correto nesta imagem.

Embora esta imagem em particular não deixe muito espaço para interpretação, mesmo histórias fechadas têm alguma variação.

Não há uma verdade única na fotografia.

As lágrimas podem ser de alegria ou de tristeza, um abraço na estação de comboio pode ser uma recepção calorosa ou um triste adeus.

Na Fotografia de Rua sinto que não é nossa obrigação, dizer a verdade. Nós somos contadores de histórias que usam a rua como nosso palco. O que nós contamos é cândido e não é verdade, mas não todas as vezes diretamente o que estava acontecendo na realidade.

Há sempre alguma margem de manobra para contar a história e como não há narrador neutro, histórias fechadas também podem ser interpretadas de forma diferente.

Não Todos têm de compreender a História

Contar histórias em Fotografia é um tema muito complexo.

Pessoas que não estão interessadas em fotografia ou que não têm mais imaginação, negam que as fotografias possam contar uma história. Elas afirmam, que é totalmente inventado e a imagem poderia mostrar tudo e qualquer coisa sem uma narração real.

Eu entendo que nem todas as fotos falam com todos. O mesmo acontece com o aclamado trabalho de qualidade. Nem todos vêem as histórias diárias de Chicago nas imagens de Vivian Maier.

O que é totalmente bom, gostos diferentes para pessoas diferentes.

Em conclusão, isto não significa que uma boa imagem fale com todos.

Para mim, é mais interessante criar imagens controversas que invocam uma emoção forte em alguns, do que dirigir-se a um público mais amplo.

Então eu entendo se você achar a seguinte interpretação de fotos de Bruce Gilden uma besteira.

Mas ele é um fotógrafo apaixonado e é o seu lado da história.

Conclusão sobre Contar Estórias em Fotografia

Fotografia é sobre histórias e emoções.

Contar histórias em Fotografia pode ser muito complexo e difícil de conseguir. Procure por gestos, interações ou em ações gerais.

Não fotografe simplesmente pessoas, fotografe histórias que já acontecem na frente de sua câmera.

Dê ao espectador algumas pedras angulares que ele pode trabalhar através de sua imagem.

Guie-o com sua composição.

Inicie a história com o detalhe principal algo simples que é a primeira coisa que um espectador percebe em sua imagem. Use outros detalhes mais sutilmente que possam ser integrados na história.

Não deixe de criar histórias “estranhas” que apenas algumas pessoas entendem.

Seu pior medo pode ser que ninguém entenda suas imagens.

Seu segundo pior medo deve ser que todos entendam.

Fotos controversas são mais interessantes e valiosas do que criar tédio popular para entreter um público mais amplo.

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